Dos representantes do RockInPress, é certeza de que sou o que vive mais longe das grandes noites e dos tãos esperados shows internacionais que tanto agradam a comunidade alternativa brasileira. Morar em Alta Floresta no Mato Grosso é dureza e sim, temos a internet pra compensar isso.
Além da grande barreira física, uma barreira cultural talvez nos separe de todas essas oportunidades, apesar de termos uma cena musical até que consolidada, mas calcada nos shows covers e na mesmice e não que seja necessário pra se ter uma vida digna, mas se perguntar pra metade das pessoas que fazem parte desta ‘cena’ o que elas acham sobre o último disco do Radiohead, elas diriam que não sabem o que é Radiohead, como diria uma amiga, é NO FUN. Aqui, o HYPE não existe.
Para tentar dar uma mão na roda para as bandas e para a cultura altaflorestensse, surgiu o Coletivo Arueira, um ponto ligado ao famoso coletivo Espaço Cubo de Cuiabá, e com parcerias com o Circuito Fora do Eixo e com o Toque No Brasil, um avanço de proporções gigantescas, que já vem colhendo bons frutos. Além do primeiro Grito Rock realizado na cidade, trouxeram o esperado e super elogiado show da banda Macaco Bong, firmando a parceria Arueira/Espaço Cubo.
Não é preciso apresentações, todos sabem a importância e a qualidade que esse trio cuiabano têm, então ‘vamos’ ao show, que é o que importa:
Para a abertura do show, foram escaladas três bandas locais, que mostraram a diversidade musical da cidade. E começando com um grande atraso, a banda da abertura foi a Cinta Liga.
A banda até tem um proposta interessante (é formada apenas por meninas), mas se perde no meio de tanta ‘ecleticidade’, além de ter uma execução quase sofrível das músicas. O setlist bem variado, começou com Cazuza e uma introdução feita com flauta doce (?), passaram por Pitty, Mamonas Assassinas, Celly Campelo (??) e outros covers, até chegarem na única música autoral apresentada, que na verdade é uma versão piorada de uma das músicas da vocalista Luh Cardoso, quando seguia carreira solo. Apesar de ter agradado o público (não muito exigente, diga-se de passagem), o show foi um sucessão de erros, mas nada que o tempo e boas aulas não concertem.
A segunda banda da noite foi a Liliths, com mais músicas autorais e mais qualidade, mas que sofreram com problemas técnicos. Mandaram covers de Hole, Cranberries entre outros, além de algumas próprias. A banda, apesar de ter dois homens, soa bastante riot grrrl, a força de expressão da baterista e da baixista que também é vocalista sobressaem, tornando o show diverdito e dando a impressão de que Courtney Love ficou morena e está tocando baixo na sua frente, impressionante. O fim do show foi caótico, o público mais headbanger, esperando pela próxima atração, começou a gritar palavras de baixo calão (aka palavrões motherfuckers), que na verdade eram uma das insanas letras da banda Velhas Virgens, por causa dos problemas que impediram a Liliths de encerrar o seu agradável show.
Chegou a hora de a banda local mais respeitada tocar e no meio do show, a banda Dhelta 09 anuncia que essa era última apresentação, um coro de tristes “ahs” foi soltado pelos fiéis fãs. A banda é conhecida pela presença de palco e pela grande habilidade músical, e a vibe deles é o metal e suas variações, mandaram várias músicas próprias, que até foram cantadas por vários do presente. O show é animal, não tem como negar e o vocalista pulando do palco e participando de uma pogo (aka rodinha punk) deve ter sido inesquecível para os fãs e seus berros gruturais devem ter encomodado muito os vizinhos do Centro Cultural em que o mini-festival foi realizado.
E então, chega a grande atração da noite, o fabuloso power-trio Macaco Bong, o show de maior renome que a cidade já teve. Apesar de muito estarem alheios sobre a história da banda, muitos foram conversar com os integrantes, que simpáticos respondiam à todos, e pra quem já estava iniciado ao som deles, tiveram um papo sobre influências e os rumos que banda esta tomando para este ano. O setlist, improvisado, foi bem curto, a bruxa dos problemas técnicos estava solta na noite. Abriram a apresentação com ‘Amendoim’, a faixa introdutória do disco Artista Igual Pedreiro, e prometeram tocar músicas novas, o que não aconteceu. O público estava bem reduzido, mas quem ficou pra ver, não esquecerá tão rápido, a ferocidade com que eles tocam e o estado de lisergia dos fãs.
Na metade final do show, gritos e mais gritos pedindo ‘Noise James’ foram atendidos, e confesso que fiquei feliz, é uma das minhas músicas preferidas da banda. E pra encerrar com chave de ouro, mandaram ‘vamodáhmaisuma’, outro pedido dos fãs insandecidos. Me senti no próprio Planeta Terra, pois a apresentação foi fiel e a presença de palco foi igual, mesmo com eles tocando em um palco bem menor e com menos qualidade de som, mostrando a humildade do grupo. O fim do show foi apoteótico, com Bruno Kayapy enlouquecendo com os efeitos de pedais. O público ainda pedia ‘Um G Bem Quente’ uma das músicas novas, mas o pedido só não foi atendido por falta de guitarra, já que as cordas das duas disponíveis já estavam devidamente arrebentadas, mesmo assim foi inesquecível.
Além de uma resenha, esta, é quase um relato de amor de um fã. Em todas as manifestações de pedido, eu estava lá e esse show, veio pra mudar a concepção de música de muita gente da minha cidade e dar novos ares a cultura local, pois uma das bandas mais respeitadas no cenário indie brasileiro agradou pessoas que desconsideram essa cena. O show que já passou por todo o Brasil e já é conhecido pelo mundo, chegou atrasado, mas a experiência é única para todos.
#dik, estou na foto, mas nem tente adivinhar quem sou.
P.S.: Fotos gentilmente cedidas por @valerioJ, baixista e vocalista da banda Liliths e autora do blog Rock em Alta, que por acaso é esse.